A polêmica do remake canadense da série Brooklyn Nine-nine
- Fernanda Iana
- 3 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de nov. de 2020
Por Fernanda Iana
Desde o final do ano de 2019, existem rumores a respeito da produção de um remake da famosa sitcom policial estadunidense, Brooklyn Nine-Nine, que conta a história do esquadrão do 99° departamento de polícia da cidade de Nova York, no bairro do Brooklyn.

A série original segue o detetive Jake Peralta (Andy Samberg), que apesar de brilhante, tende a não respeitar muito as regras, porém precisa aprender a ser mais responsável com a entrada do Capitão Raymond Holt (Andre Braugher) no comando do esquadrão, um homem extremamente severo.
Com um humor leve e um mergulho genuíno na rotina dentro de um departamento de polícia, a sitcom consegue abordar temas considerados tabus, porém cuja discussão é necessária, como a violência policial e o racismo. Uma das principais características que tornam Brooklyn Nine-Nine tão marcante é a representatividade em seu elenco e nos personagens: vemos homens negros ocupando cargos de poder, como o Capitão Holt e o Tenente Terry Jeffords (Terry Crews), mulheres latinas empoderadas, como as detetives Amy Santiago (Melissa Fumero) e Rosa Diaz (Stephanie Beatriz), além de apresentar personagens que são membros da comunidade LGBT+, como o Capitão Holt, um homem gay e a detetive, Rosa Diaz, uma mulher bissexual.
No seu sétimo ano consecutivo, Brooklyn Nine-Nine encontrou um lugar dentre as séries de comédia mais aclamadas do mundo, atualmente, e nos corações dos fãs como uma das mais inclusivas. Parece estranho imaginar que um seriado tão interessante já tenha planos de ser refeito enquanto ainda está no ar, já que o comum para se cogitar um remake é atualizar séries antigas, como foi o caso da série One day at a time (2016), que é um remake da série homônima feita em 1975.
Entretanto, o canal Quebecor Content liberou, essa semana, as primeiras imagens e o trailer de Escouade 99, um remake canadense da série, que desde seu primeiro trailer desagradou não apenas os fãs da série original, mas o próprio elenco. Segundo o site Observatório do Cinema, o remake parece ser uma cópia cena a cena da sitcom estadunidense, tendo como diferencial ser falada em francês. O remake optou também por abandonar um dos principais marcos da série original: a representatividade.


A atriz Melissa Fumero, intérprete da detetive Amy Santiago, afirmou em seu Twitter estar decepcionada com a escolha do elenco da versão canadense da série, uma vez que os papéis de sua personagem e também da detetive Rosa Diaz serão interpretados por mulheres brancas, além de terem seus nomes trocados para Fanny (Mylène Mackay) e Rosalie (Bianca Gervais), respectivamente. A atriz também disse estar curiosa a respeito da população latina do Canadá, e acredita que não conceder os papéis de Amy e Rosa para atrizes pertencentes a minorias foi uma oportunidade perdida.

Outra questão que foi apontada é que no pôster oficial da versão franco-canadense o personagem Terry Jeffords, que faz parte do grupo principal da série original, foi, convenientemente, colocado em segundo plano e substituído pelo personagem Scully – renomeado para Goudreau (Louis Champagne) e que em Brooklyn Nine-Nine é um personagem recorrente. Sendo assim, a única diversidade que Escouade 99 nos apresenta em seus protagonistas é o Capitão Holt (Widemir Normil), que será interpretado por um ator negro, assim como na série original, apesar de ainda não sabermos se ele realmente fará parte da comunidade LGBT+ e pelo que o remake nos indica, não seria surpresa se não fizesse.

As escolhas do elenco têm gerado discussões a respeito de “whitewashing” ou “branqueamento”, termo utilizado para caracterizar a escalação de atores brancos para interpretar personagens de outras etnias. Um dos casos mais emblemáticos desta prática no cinema foi o live-action da animação Avatar, que recebeu o nome de O último mestre do ar e todo o elenco formado por atores brancos, quando, na realidade, na animação todos os personagens são de ascendência asiática.
O branqueamento em Escouade 99 foi feito no elenco latino, que simplesmente não existe e no personagem Terry, que como mencionado, anteriormente, foi retirado do elenco principal. Além disso, outros membros do elenco original além de Fumero demonstraram desagrado com o remake e a maneira que foi feito, como a atriz Stephanie Beatriz, e os atores Joel McKinnon Miller, que interpreta Scully e Joe Lo Truglio, intérprete do personagem Charles Boyle.

A própria existência do remake e o trailer que foi apresentado geraram desconforto nos fãs de Brooklyn Nine-Nine, algo que motivou a criação de diversos memes nas redes sociais comparando as duas séries e, apesar do desgosto que causou, Escouade 99 tornou-se uma verdadeira piada entre os admiradores da série original.
Os fãs também fizeram críticas a respeito da escolha do canal de utilizar o mesmo roteiro do seriado americano, pontuando que o nicho de comédias policiais ainda tem muito a ser explorado e reutilizar um roteiro de uma série que já se provou como uma das melhores sitcoms norte-americanas da atualidade foi uma decisão preguiçosa.
O remake tem previsão de estreia para setembro de 2020, no serviço de streaming Club Illico enquanto Brooklyn Nine-Nine teve sua oitava temporada adiada para o ano de 2021, devido à pandemia do novo Coronavírus.
A produção de Brooklyn Nine-Nine ainda afirmou que um dos tópicos que pode ser abordado na nova temporada é a morte de George Floyd, homem negro vítima de violência policial, após os atores Terry Crews e Andre Braugher se manifestarem sobre o assunto. Após as manifestações motivadas pelo assassinato de Floyd, Crews afirmou que alguns roteiros da série deveriam ser “jogados no lixo”. Já Braugher alertou, em uma entrevista ao podcast The Awardist, que tanto Brooklyn Nine-Nine quanto outros seriados precisam retratar a polícia de forma mais realista.

Revisão: Janaína Melo
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